Postagens populares

sábado, 29 de março de 2014

--- Palindromagia

EXTRAÍDO DO MEU LIVRO "TUCANO NA CUT"


Primeiramente, é oportuno esclarecer que esta palavra PALINDROMAGIA, hoje fartamente utilizada em itens da internet, fui eu que criei para denominar o jogo de palavras que inventei e que expus suas regras no meu livro TUCANO NA CUT, publicado em 1998. Felizmente me roubaram só a palavra e não minha imaginação. Mas no Brasil é assim mesmo, como dizia o filósofo Chacrinha - cada país tem o filósofo que merece - nada se cria, tudo se copia, sem qualquer alusão ao criador. Nunca respeitam o direito autoral


Feita a ressalva, vamos ao jogo. Após produzir centenas de palíndromos - e por causa disso - acabei inventando um jogo de palavras, com ligeira similitude à charada invertida, que denominei palindromagia (não procurem no neologismo qualquer embasamento etimológico. Quanto à mágica do jogo, ela está em que, de 2, 3, ou mais palavras, pode-se extrair uma frase contendo uma quantidade de vocábulos, muitas vezes, até superior ao dobro das mesmas.


Ouso afirmar, sem receio de estar exagerando, que a palindromagia pode ser tão interessante, ou mais, que palavras cruzadas, logomania, etc. Traz ainda outra novidade: a solução implica sempre o surgimento de uma nova frase palindrômica, o que não deixa de ser uma atraente curiosidade.


Consiste esta charada no seguinte: aos leitores serão enunciadas as palavras que compõem a metade de um palíndromo. Com tais vocábulos será possível solucionar o enigma, uma vez que toda frase dessa espécie se divide em duas parte que se encontram no centro da mesma para formar a oração. A PRIMEIA PARTE chamo-a de direta ou ascendentete e a outra de indireta ou descendente, denominações que me parecem apropriadas . Enfim, as palavras da primeira parte, invertidas, são as mesmas da segunda, ou vice-versa.


Tome-se, por exemplo, o palíndromo da anedota, já transcrito : SOCORRAM-ME, SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS.


O enunciado do problema que se formular com ele, tanto poderá ser feito através dos vocábulos da primeira parte, ou seja, SOCORRAM-ME SUBI NO, como da indireta, ÔNIBUS EM MARROCOS. Para dificultar o deslinde da charada, as palavras serão apresentadas fora de ordem.


Na hipótese acima, pode-se escolher os enunciados a seguir exemplificados: na parte ascendente, NO SUBI SOCORRAM-ME, ou SOCORRAM-ME NO SUBI e, na segunda, MARROCOS EM ÔNIBUS, ou, ainda, ÔNIBUS MARROCOS EM.


De toda a sorte, seja qual for o critério adotado, o jogador terá sempre condições de descobrir o palíndromo, uma vez que, além das palavras enunciadas, as demais que o integram poderão ser destas deduzidas.


Havendo palavras homógrafas, o formulador, no enunciado, deverá sempre explicitar o sentido da mesma no texto, como, por exemplo, nesse de minha autoria,


AMOR LEVA RODA À ADORÁVEL ROMA(39), cujo termo "roda", ao contrário do que o charadista poderá supor, designa grupo de pessoas com quem se mantém relações. Destarte, ele poderá ser exposto conforme modelo que segue: “RODA - círculo de amizades”.


Quando se trata de palíndromo no qual, entre as partes direta e indireta há um espaço (como o de Marrocos), o enunciado, como se viu, é de elaboração bastante simples. Em se tratando, porém de algum que contenha no centro, em vez de espaço, uma letra isolada (como o À do palíndromo anterior) ou incorporada a um vocábulo de quaisquer das partes (o T do palíndromo abaixo ), as quais chamo de letra eixo, é um pouco mais complicado. Nesta hipótese, o formulador deve enunciá-la isolada na primeira parte, quando esta estiver inserta em palavra da segunda, ou vice-versa. Destarte, caso se queira apresentar como charada


ROMA ME TEM AMOR, cuja letra eixo é o T, o enunciado pode ter as seguintes formas: na hipótese da parte ascendente , ME ROMA T, na segunda, AMOR TEM.


Finalmente, no caso em que o palíndromo escolhido para enigma tenha um ou mais sinais de pontuação, diacrítico ou gráfico, a solução, pelo menos aparentemente, fica um pouco mais difícil, uma vez que na leitura invertida nem sempre são mantidos na mesma letra.Por essa razão, em português, os que considero perfeitos, são aqueles nos quais o sinal não oscila de posição.


Já nos imperfeitos, a colocação do sinal nem sempre é respeitada e, às vezes, até desaparece.
Exemplo da primeira espécie é este que criei:


O TEU DRAMA É AMAR DUETO,cujo acento agudo no E, tanto na ordem direta como na indireta, cai sempre na mesma letra. Observe-se agora um imperfeito, também de minha autoria:


SÓ COM O TIO SOMÁVAMOS OITO MOÇOS(40).


Como se vê, o acento agudo da palavra SÓ não aparece na parte descendente, o de SOMÁVAMOS muda de posição quando se lê da direita para a esquerda e o cê-cedilha, existente na segunda parte, não consta na ascendente. A verdade é que, quando há sinais gráficos, raramente se consegue um perfeito. De qualquer modo, na formulação do enigma, também poderá ser utilizado o imperfeito, fato que, estou certo, não será obstáculo à solução da charada a um palindromista mais diligente, como ocorre, aliás, com aqueles que se distraem solucionando as tradicionais palavras cruzadas.


Quando houver, outrossim, no centro da frase, em vez de uma letra eixo, uma palavra palindrômica (é a palavra eixo), como no exemplo retro (somávamos), tal como sugeri se faça com a letra, ela deve ser expressa em quaisquer das partes adotadas para o enunciado, fato que facilitará bastante a solução do problema. Assim, só avento o aproveitamento de palíndromo com essa característica na hipótese do jogo ser destinado a crianças.


Finalmente, em sendo usado nome próprio na elaboração do palíndromo, esse fato deverá sempre ficar esclarecido no enunciado. Assim: “RAUL - nome próprio masculino”. A critério do formulador, entretanto, outros ou todos os termos poderão também ter o significado revelado, havendo ou não riscos de dubiedade.
Passadas essas informações, vejamos um exemplo de palindromagia com frase desconhecida:


ENUNCIADO


ARGEL (País da África) - DIVA (Nome próprio) - A - (artigo) - EM - (preposição) - A - ( Letra eixo).). COMO SOLUCIONAR O ENIGMA.).
A primeira providência, creio, a ser adotada pelo charadista que pretenda resolver a questão, é escrever as palavras enunciadas da direita para a esquerda:).
ARGEL = LEGRA
DIVA = AVID
A = A
EM = ME
A = A (Letra eixo)).


A segunda, é colocar em ordem palindrômica as palavras enunciadas. Assim: A DIVA EM ARGEL A.
Dessa forma, a segunda parte do enigma só pode ser:
ALEGRA-ME A VIDA.
Eis, então, o palíndromo:
A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA.


As informações anteriores, contudo, não significam que o leitor interessado não possa encontrar, a seu critério, caminhos que julgue mais práticos para solucionar as charadas.


Convém salientar que certos vocábulos oferecidos para deslinde de enigmas poderão, ainda que muito raramente, propiciar soluções diferentes daquelas imaginadas pelo criador. Tome-se o seguinte enunciado: É PRAZER O TENRO, que possibilita a produção do seguinte palíndromo:
O TENRO PRAZER É REZAR POR NETO.


O mesmo enunciado, entanto, poderá servir à construção de outro com ordem diversa das palavras:
REZAR POR NETO É O TENRO PRAZER.


Como se nota, os vocábulos são os mesmos, mas a solução tem formato diverso, não obstante o sentido idêntico.


Há ainda a possibilidade, remotíssima, de encontrar-se, com um só enunciado, até mais de duas frases palindrômicas. Tome-se, por exemplo, o seguinte: TROPA À IGNARA. Com estas três palavras, mudando-se a posição das mesmas e colocando-se ou retirando-se a vírgula ou a crase, descobri as seguintes soluções:


A PORTA RANGIA À IGNARA TROPA;
À IGNARA TROPA A PORTA RANGIA;
À PORTA, RANGIA A IGNARA TROPA;
A IGNARA TROPA À PORTA RANGIA.


Após estas considerações, auguro que o leitor, caso seja do seu agrado, tente solucionar as charadas apresentadas neste livro, cujas soluções serão exibidas no final do mesmo.
Espero, finalmente, que esta pequena obra possa deleitar intelectualmente os que a lerem e dar maior divulgação a esta arte neurótica e maravilhosa criada pela vocação eternamente lúdica da inteligência humana, ainda nos primórdios de nossa civilização.


Observação: cheguei a publicar num jornal (semanal) de Brasilia, durante quase dois anos, uma coluna com este jogo - a palindromagia - que teve grande sucesso. Depois cansei. Era trabalho gratuito. Só pela arte. Valeu! Fiz muitos amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário